sexta-feira, 28 de setembro de 2012

dança

aquiloquememove

2004

Carta de despedida do Studio de Dança do I.E.E

Cheguei no Rio de Janeiro em maço de 2004 (mas comemoro em abril). Foi um ano de expectativas, na verdade o Rio seria uma passagem, um período, daqui eu iria para China. Mas os planos mudaram e estou num rito de mais de 8 anos de passagem na cidade que me acolheu e mais me entendeu. Rio meu amor também é teu. Não tenho do que reclamar. São muito mais alegrias, do que tristezas.

Mas hoje quero publicar aqui uma carta que recebi na minha despedida do Studio de Dança em Florianópolis. Há alguns meses, sem saberem da minha partida, nem eu sabia. Minhas amigas acabaram criando um “Fã Clube”, com carteirinha e tudo, meio de brincadeira. Mas cheio de carinho e amor de verdade. Segue a carta dessas amigas inesquecíveis na minha memória, e mais no meu coração. Sempre lembro de vocês.

Talitta!

Esta não é uma despedida e sim a recepção de uma nova etapa da sua vida. Etapa de grande mudança, de grande vitória e muito aprendizado. A vida põe provas em nosso caminho. Conforme vamos crescendo, as oportunidades vão surgindo, as trilhas vão se abrindo e as escolhas precisam ser feitas. Construindo, assim, o nosso futuro.

Saiba que sentiremos muito a sua falta, pois você é e sempre será a nossa “ídola”. A marca dos nossos desodorantes, a fronha dos nossos travesseiros, o pôster dos nossos quartos... a nossa “Santa Talittina”. Impossível esquecer da sua pizza de brócolis, seu “Chico Buarque”, seu coque irresistível, sua baba no edredon, seu andar na meia-ponta, seu “cochilinho” no Cau Hansen (Festival de Dança de Joinville), suas paçocas e pipocas BILU (aquela do saco rosa) no terminal (de ônibus), além do cacho de bananas.

As músicas que tivemos o privilégio de ouvir você cantar... “beija, beija, tá calor, tá calor”... ou “procurando bem todo mundo tem pereba, marca de bexiga ou vacina”... seu inglês evoluído “sorry!”... e sua mais atual e famosa frase “a tua calcinha é maior que a minha cueca!”
– explico: atravessava a rua na faixa, quando um moço gritou isso do carro; acontece que a marca do que ele chamou de calcinha era do collant, e eu estava de calça de ginástica, por isso ele observou a marca... enfim, ele observou a minha bunda -.

Brincadeiras e lembranças à parte... desejamos que você aproveite muito a viagem, amadureça e aprenda muito para nos ensinar depois, e acima de tudo, seja muito, mais muito feliz! Estaremos aqui, esperando você voltar... e a distância com certeza não será suficiente para esquecermos de você.

Beijos com muito amor de todas as suas fãs, que antes disso são tuas amigas! “Talitta nós te amamos!”


...................

* Pra não esquecer de mim.

** E muito grata.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

carpinejando

Adoecer por paixão não é um vexame. Gafe é fingir que nada aconteceu.

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Venha, por favor

por Fabrício Carpinejar
(com licença poética)

Eu espero alguém que não desista de mim mesmo quando já não tem interesse. Espero alguém que não me torture com promessas de envelhecer comigo, que realmente envelheça comigo. Espero alguém que se orgulhe do que escrevo, que me faça ser mais amiga dos meus amigos e mais irmã dos meus irmãos. Espero alguém que não tenha medo do escândalo, mas tenha medo da indiferença. Espero alguém que ponha bilhetinhos dentro daqueles livros que vou ler até o fim. Espero alguém que se arrependa rápido de suas grosserias e me perdoe sem querer. Espero alguém que me avise que estou repetindo a roupa na semana. Espero alguém que nunca abandone a conversa quando não sei mais falar. Espero alguém que, nos jantares entre os amigos, dispute comigo para contar primeiro como nos conhecemos. Espero alguém que goste de dirigir para nos revezarmos em longas viagens. Espero alguém disposto a conferir se a porta está fechada e o café desligado, se meu rosto está aborrecido ou esperançoso. Espero alguém que prove que amar não é contrato, que o amor não termina com nossos erros. Espero alguém que não se irrite com a minha ansiedade (e sinceridade). Espero alguém que possa criar toda uma linguagem cifrada para que ninguém nos recrimine. Espero alguém que arrume ingressos de teatro de repente, que me sequestre ao cinema, que cheire meu corpo suado como se ainda fosse perfume. Espero alguém que não largue as mãos dadas nem para coçar o rosto. Espero alguém que me olhe demoradamente quando estou distraída, que me telefone para narrar como foi seu dia. Espero alguém que procure um espaço acolchoado em meu peito. Espero alguém que minta que cozinha e só diga a verdade depois que comi. Espero alguém que leia uma notícia, veja que haverá um show de minha banda predileta, e corra para me adiantar por e-mail. Espero alguém que ame meus filhos como se estivesse reencontrando minha infância e adolescência fora de mim. Espero alguém que fique me chamando para dormir, que fique me chamando para despertar, que não precise me chamar para amar. Espero alguém com uma vocação pela metade, uma frustração antiga, um desejo de ser algo que não se cumpriu, uma melancolia discreta, para nunca ser prepotente. Espero alguém que tenha uma risada tão bonita que terei sempre vontade de ser engraçada. Espero alguém que comente sua dor com respeito e ouça minha dor com interesse. Espero alguém que prepare minha festa de aniversário em segredo e crie conspiração dos amigos para me ajudar. Espero alguém que pinte o muro onde passo, que não se perturbe com o que as pessoas pensam a nosso respeito. Espero alguém que vire cínico no desespero e doce na tristeza. Espero alguém que curta o domingo em casa, acordar tarde e andar de chinelos, e que me pergunte o tempo antes de olhar para as janelas. Espero alguém que me ensine a me amar, porque a separação apenas vem me ensinando a me destruir. Espero alguém que tenha pressa de mim, eternidade de mim, que chegue logo, que apareça hoje, que largue o casaco no sofá e não seja educado a ponto de estendê-lo no cabide. Espero encontrar um homem que me torne novamente necessária.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

te deixo em paz



Me deixa em paz

(Alaíde Costa)


Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar
Evitar a dor
É impossível
Evitar esse amor
É muito mais
Você arruinou a minha vida
Me deixa em paz

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Campeche

A democracia em Florianópolis

por Elaine Tavares


O mundo liberal burguês criou o mito da democracia como sendo a possibilidade que o povo tem de escolher seus representantes. Vota-se a cada dois anos, para prefeito, vereador, deputado estadual, federal, senador, governador e presidente. E tudo está feito. Fez-se a democracia. Os eleitos, que na campanha prometem defender as causas do povo, ao assumirem os cargos passam a defender os interesses de quem financiou a campanha, o que nunca é o povo. No geral são empresários, grupos de interesses específicos, que cobram a fatura. Assim, o povo fica a ver navios, esperando pela próxima campanha, na qual os candidatos farão as mesmas promessas.

Estamos em campanha agora. Os mesmos caras que governam a cidade há décadas expõem suas propostas como se nunca tivessem estado no poder. Falam de melhorar o transporte, a saúde, a segurança, tem quem queira colocar GPS para que o povo saiba onde está o ônibus, os que vão criar creches 24 horas e nas férias, para que as mães possam trabalhar tranquilas. Enfim, um festival de bobagens. Na outra ponta, as gentes, alucinadas com a dura tarefa de sobreviver, que se encantam com a tela fosforescente e acreditam nas promessas. Sem tempo para pensar a realidade e se organizar numa verdadeira democracia participativa, acossadas pela necessidade de ganhar a vida, as pessoas preferem crer nos representantes e esperar que eles os salvem. Não é assim, nem nunca será.

Esta semana a prefeitura organizou uma cena digna de compaixão. Juntou trabalhadores do Posto de Saúde do Campeche e da região, famílias amigas, políticos inescrupulosos e propuseram uma obra ao bairro: um novo Posto de Saúde, desta vez próprio, pois o que tem está em casa alugada. A prefeitura recebeu uma grana do PAC e precisa gastar tudo até o final do ano. Estava com pressa. Aproveitou as eleições e colocou para o povo a possibilidade da construção do Posto no mesmo lugar onde a comunidade, há décadas, pede a criação de um Parque Cultural. Pois algumas lideranças comunitárias, dessas que estão na luta orgânica desde sempre foram à reunião para tentar explicar que o Campeche tem muitos outros terrenos onde o Posto pode ser construído. Por que escolher o lugar do parque?

Na verdade, quem luta no Campeche sabe porque a prefeitura veio com essa proposta. Porque o Parque Cultural é uma proposta do movimento popular, dos que lutam por uma bairro-jardim, por vida boa para todos, dos que batalham por espaços de convivência que integrem e organizem a comunidade. E essas coisas tem de ser destruídas pelo poder instituído. Impor uma derrota ao movimento, esfacelar os sonhos, dividir as gentes.

E foi o que se viu. Moradores contra moradores, pessoas simples, gente que convive diariamente e sofre a falta de espaços de lazer e de organização, acusando os lutadores sociais de estarem contra o Posto de Saúde. Ou seja, desvirtuando completamente as coisas. O que se propunha era o Posto em outro lugar. E há terra demais para isso. E não teve jeito. Como a prefeitura havia organizado as famílias e os trabalhadores, a proposta passou. Derrota para o movimento social, desgaste, tristeza. As lutas de anos a fio indo pelo ralo.

Não bastasse isso, os vereadores da cidade, na surdina, sem divulgação alguma, e no apagar das luzes antes das eleições, aprovaram uma série de alterações de zoneamento, quando todo o movimento de luta por um Plano Diretor vem exigindo um defeso nessa área. E o que significa isso? Que não deve haver alteração de zoneamento enquanto não se decidir o plano diretor. Isso foi decisão das comunidades, das gentes que estão há mais de cinco anos discutindo o Plano Diretor. Mas quem diz que vereador representa o povo? Eles representam os interesses imobiliários, dos poderosos, dos ricos. E, surdos às gentes, aprovaram proposta do vereador Dalmo de Menezes (candidato de novo) alterações na lei que limita o número de andares nos prédios do Cacupé, abolindo a decisão do povo que exigia a continuidade da regra dos dois pavimentos. Aprovaram ainda outra lei que altera zoneamento no Campeche, de autoria do vereador João Aurélio (candidato de novo). E outro do Dalmo Menezes que incentiva a construção de shopings na cidade, e mais outros quatro projetos que também alteram o zoneamento de áreas no Saco Grande, Vargem Grande, Pântano do Sul e Centro, apresentados pelos vereadores Ricardo Vieira e Jaime Tonelo (candidatos de novo). Candidatos de quem?

"Ah, mas tem um que cria um parque", pode dizer algum mal-intencionado. Não importa. O que tem de ficar claro é que os movimentos sociais, as pessoas envolvidas com a construção do plano diretor haviam decidido pelo defeso. Por que não são escutadas? Porque o que vivemos não é uma democracia. Porque o que manda é o poder financeiro, os caras que investem, que criam negócios altamente lucrativos para muito poucos.

A democracia deveria ser a aceitação da decisão da maioria. Mas isso é burlado todos os dias, em quase todos os espaços. E quando o poder quer fazer passar seus interesses eles arranjam a maioria, levam pessoas, compram corações e mentes, muitas vezes ingênuos, acreditando fazer bem à comunidade.

E assim vamos seguindo nessa cidade triste, onde a voz das gentes não é escutada. Mas, cada derrota sofrida serve de mola para que a luta siga. E os que estão aí por anos a fio batalhando por uma cidade boa de viver não se abatem com as manobras governistas e com a ação dos que praticam a pequena política. Tem muita gente que consegue levantar o véu dessa democracia de mentira, consegue ver o que está debaixo do pano, consegue compreender e encontra forças para avançar.

O Campeche, lembra a educadora Telma Piacentini, é espaço de surfistas e eles nos ensinam todos os dias que sempre vem uma onda melhor. Eles ficam ali, deitados na prancha, esperando por ela. E quando ela vem, eles assomam, cavalgam e domam. Hoje, os vereadores, a prefeitura e os pequenos políticos nos pegaram...Mas é bom que saibam, estamos aqui, na prancha, esperando a onda. E ela vem... ela sempre vem...

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Carlos Drummond de Andrade

Viver não dói

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Por que sofremos tanto por amor?

O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.

Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas.

Por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos.
Por todos os filhos que gostaríamos de ter tido juntos e não tivemos.
Por todos os shows, livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam. Todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido?

A resposta é simples como um verso: se iludindo menos e vivendo mais.

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.

consolador

porque a dor é só minha

domingo, 16 de setembro de 2012

ontem

as vezes eu também desisto

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

o sol ensolarará a estrada dela




Dura Na Queda
(Chico Buarque)


Perdida
Na avenida
Canta seu enredo
Fora do carnaval
Perdeu a saia
Perdeu o emprego
Desfila natural

Esquinas
Mil buzinas
Imagina orquestras
Samba no chafariz
Viva a folia
A dor não presta
Felicidade, sim

O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

Bambeia
Cambaleia
É dura na queda
Custa a cair em si
Largou família
Bebeu veneno
E vai morrer de rir

Vagueia
Devaneia
Já apanhou à beça
Mas pra quem sabe olhar
A flor também é
Ferida aberta
E não se vê chorar


O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol,a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol,a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas