quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Cidadão Boilesen
Através da surpreendente vida de Henning Boilesen, o documentário revela a ligação política e econômica entre empresários e militares no combate à luta armada durante o regime militar brasileiro.
PS.: Assisti este documentário e recomendo.
Filme: Cidadão Boilesen
Por Carlos Helí de Almeida (Jornal do Brasil)
Em abril de 1971, o empresário dinamarquês (naturalizado brasileiro) Henning Albert Boilesen, então diretor do grupo Ultragaz, foi executado por militantes da esquerda, acusado de financiar a repressão militar contra a guerrilha urbana. Sugerida em filmes (Pra frente Brasil, de Roberto Farias, Lamarca, de Sérgio Rezende) e peças (Sonata tropical, de Roberto Elisabetsky), a associação entre empresários brasileiros (particularmente os paulistas) e a ditadura militar (1964-1985), um tema tabu no país, é investigada a fundo no documentário Cidadão Boilesen, uma das atrações da 14ª edição do festival É Tudo Verdade, cuja versão carioca começa nesta quinta-feira, com a projeção para convidados de Domingos, de Maria Ribeiro. A primeira sessão do filme está marcada para dia 29, no Arteplex, às 20h.
Escrito e dirigido pelo jornalista Chaim Litewski, o filme tem como fio condutor a biografia do executivo, que veio para o Brasil no fim dos anos 30 e fez fortuna no país. Anticomunista ferrenho, Boilesen não só teria estado à frente da caixinha dos empresários que levantou fundos para financiar a Operação Bandeirantes (Oban) – a agência de repressão aos opositores dos militares – como também teria participado pessoalmente das sessões de tortura na sede do DOI-Codi de São Paulo. Cidadão Boilesen recorre a depoimentos de parentes, amigos, historiadores, políticos, militares e ex-integrantes da luta armada para traçar o perfil do controverso industrial, que frequentava as altas rodas e as colunas sociais e, supostamente, tinha o perverso hábito de visitar os porões da ditadura.
Há décadas os mistérios envolvendo a personalidade e a trajetória de Boilesen fascinavam Letewsk que, num primeiro momento, pensou em escrever um livro sobre o empresário. O jornalista chegou a recortar e guardar obituários publicados em jornais e revistas da época. Anos mais tarde, no entanto, soube da publicação de uma biografia do executivo na Dinamarca, intitulada Likvider Boilesen, de Henrik Kruger. Litewski desistiu de escrever um livro e começou a pensar num documentário biográfico sobre o dinamarquês.
– Cada descoberta só fazia aumentar meu interesse pelo personagem. Boilesen é um ser quase ficcional, parece que viveu uma dicotomia tipo Jekyll e Hyde, noite e dia – compara o diretor, radicado em Nova York. – O interesse por ele me acompanhou por muitos anos. Em 1994 comecei a me organizar no sentido de realizar um documentário sobre Boilesen e seu tempo. O grande problema de qualquer pesquisador é saber quando parar, botar um ponto final na pesquisa. Isso só aconteceu dois anos atrás, quando recebi a pasta dele do SNI (Serviço Nacional de Informações).
Sobre a memória de Boilesen pesam acusações consideradas absurdas pelo filho do empresário, um dos depoentes do documentário. Militantes da esquerda atribuem ao presidente da Ultragás a criação de um instrumento de tortura que emitia choques elétricos graduais, acionado por um teclado, que ficou conhecido como Pianola Boilesen. O empresário também teria sido colaborador da CIA, a agência de inteligência americana. Depoimentos de políticos, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, religiosos como dom Paulo Evaristo Arns, ex-agentes da Oban, e ex-guerrilheiros são costurados numa tentativa de evitar a absolvição ou a condenação de um personagem vilanizado pela esquerda brasileira.
– De maneira alguma esse projeto deve ser visto, considerado ou percebido como revanchista ou revisionista. A ideia foi sempre incentivar o maior número possível de opiniões. Isso foi feito através de dezenas de entrevistas e fartamente ilustrado com cine-jornais, arquivos de TV, filmes de ficção, documentários, arquivos oficiais e particulares e outros materiais iconográficos – defende-se o diretor. – Não partimos de conceitos predeterminados. Os diferentes pontos de vista foram articulados e respeitados.
Não faz muito tempo, o Uruguai alterou a Lei de Anistia contra militares e a Argentina determinou que eles sejam julgados na Justiça Comum. Litewski espera que Cidadão Boilesen pelo menos contribua para jogar luz sobre um dos períodos mais tristes e obscuros da história brasileira recente:
– Para ser absolutamente sincero, não tenho ideia do tipo de impacto que esse documentário possa causar na sociedade brasileira. Espero que sirva para que se estude mais profundamente o tema. Isso já seria uma grande vitória.
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