segunda-feira, 26 de março de 2012

Pai e Mãe

Ainda vou contar sobre essas duas pessoas tão importantes na minha vida. Ainda vou contar. Hoje foi dia de ouvi-los, escutar suas vozes é o que faz sentido em meus ouvidos. Para além do amor que sinto. Para além do viver quase infinito.

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Tem coisas que são difíceis de começar. Ou melhor tem coisas que não sabemos por onde começar. E quando resolvi escrever esse texto sobre os meus Pais me deparei, dentre tantas coisas, com esse difícil começo. E há dias, poucos dias, me vi tentando organizar essa escrita.

Primeiramente, pensei em separar por partes – infância, adolescência e fase adulta – e vi que levará muitos textos para contar todas estas etapas da minha relação com essas duas pessoas que amo tanto nas suas singularidades.

Segundamente, pensei em não citar a participação dos meus irmãos. Mas gostaria de deixar claro que na maioria das situações aqui mencionadas, da influência dos nossos pais sobre mim, dificilmente aconteceram na ausência dos meus irmãos. Fomos criados muito juntos e nossas casas sempre foram pequenas. Só preferi que esse texto fosse especialmente para eles, Adriana e Leoberto, mais conhecido como Beto.

Na minha memória, nunca foram casados. Lembro de um abraço desses dois, eu devia ter uns 4 anos e já era ciumenta pelo meu Pai. Meus pais se separaram definitivamente quando eu tinha 5 anos. Escolhi acreditar que o casamento acabou porque os dois são leoninos.

Acompanhei de perto, não tão de perto, as “maluquices” da minha Mãe, naquela época muitas coisas não eram compreensíveis e até hoje, muitas coisas não o são. Mas a Mãe inventou de frenquentar uma igreja, acho que aos sábados, num lugar muito distante. O caminho para chegar nessa igreja era lindo, subíamos uma escadaria, muitas árvores, muita iluminação. E quando entravámos lembro da Mãe conversando, aos prantos, com uma freira. Acredito não ter sido só uma vez que fomos nessa igreja. Mas tem coisas que realmente não lembro. Talvez essa passagem tenha contribuído para eu me tornar ateia aos 13 anos.

Meu Pai é o homem mais educado que já conheci e o mais charmoso também, não há mulher que não o olhe. Meu Pai realmente é um homem bonito e carismático. Sou suspeita pra falar das minhas referências masculinas (Vô Chico, Maninho Daggo e o Pai). Aos domingos era dia de estarmos com Pai. As vezes íamos aos sábados a noite e dormíamos na casa do Pai, que já morou em algumas casas até a sua ficar pronta, também acompanhamos os momentos de construção da casa aos domingos. Ele passeava muito com a gente. Estar com meu Pai é diversão, sou um pouco assim também, passear não é problema pra mim.

A Mãe! É a mulher mais estudiosa que já conheci. Como gosta de ler. Acho admirável sua vontade e vocação para os estudos e porque não, pela educação. Minha Mãe é militante, crítica, sindicalista e radical. Radical até demais. É a mulher mais trabalhadeira, talvez não para os serviços domésticos, fez isso desde muito cedo que deve ter cansado. Mas, como tem energia para o trabalho. Foi nesse lugar que dedicou sua vida. Foi no trabalho que encontrou forças pra continuar. Foi trabalhando que conseguiu dar o melhor para os três filhos. E é do seu esforço que sente orgulho. Ôh! Mulher generosa e valente.

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depois vou continuar contando...

domingo, 18 de março de 2012

Tarsila do Amaral

(1886 - 1973)

Hoje foi dia de ver e sentir as obras de Tarsila do Amaral e de acabar com todos os meus preconceitos. Porque fiquei sem ar com tamanha força e expressividade. Sem palavras para as sensações que a exposição causa, não por acaso os curadores nomearam a exposição de Percurso Afetivo.



Retrato de Oswald de Andrade, 1922.


Site oficial: http://www.tarsiladoamaral.com.br/

terça-feira, 6 de março de 2012

sexta-feira, 2 de março de 2012

o choro

por Xico Sá *

Eis mais uma, entre as tantas, vantagens das fêmeas sobre os marmanjos: a coragem, o destemor, a arte de chorar em público.

Se o choro vem, as mulheres não congelam as lágrimas, como os moços, esses moços, pobres moços…

Não guardam as lágrimas para depois, como nós, que sempre adiamos as cachoeiras interiores, não levam as lágrimas para derramar escondidos na alcova.

Pior ainda é o homem que não chora nunca. Além de fazer mal ao coração, esse tipo não merece muita confiança.

As mulheres não, falo da maioria das fêmeas, desabam em qualquer canto e hora. Se estão mal de amor, choram na firma, no escritório mesmo, na fábrica, choram no trânsito, choram no metrô, simplesmente desabam.

Como invejo as lágrimas sinceras das moças.

Quantas vezes a gente não se preserva, por fraqueza, enquanto as lágrimas, em queda d´água, batem forte no peito machista e viram apenas pedras do gelo do uísque.

Como invejo as mulheres que misturam sim o trabalho com o drama furioso da existência.

Desconfio da frieza profissional, das icebergs de tailleur, que imitam os piores homens e guardam tudo para molhar o travesseiro solitário numa noite de inverno.

Ora, as mulheres podem ser infinitamente poderosas, administrarem plataformas de petróleo nos mares e chorarem um atlântico diante de uma indelicadeza da vida.

Lindas e comoventes as mulheres que choram em público, nas ruas, nos cafés, nos bares, nos restaurantes, no táxi. São antes de tudo umas fortes. Tristes dos que estranham ou ficam envergonhados com o mais verdadeiro dos choros.

Triste dos que acham que não levam a sério, que tratam como sintomas da TPM e chiliques do gênero, que fracasso. Ora, até mesmo os choros de varejo, não importam as causas, são comoventes. Chorar engrandece.

Fazer amor depois de lágrimas, então, é sentir o sal da existência, romanticamente, sem medo de ser ridículo ou cafona.

Acabei de testemunhar uma dessas lindas e corajosas moças, chorava no metrô da avenida Paulista.

Por que chorava aquela moça?

A moça não escondia os soluços do choro. Terá discutido a relação, a velha D.R., à boca da estação Paraíso? Veste roupa de trabalho sério, e chora.

Daqui a pouco estará sentada na sua cadeira de secretária, exímia, bilíngüe, a serviço da grana “que ergue e destrói coisas belas”.

Teria levado um pé-na-bunda, um fora? Teria visto o casamento pelo binóculo do titio Nelson Rodrigues? Perdoa-me por me traíres?

A moça que chorava sabia que o amor é como o metrô na avenida Paulista: começa no Paraíso e termina na Consolação.


* Tão delicado.

** Porque o choro é tão parte de mim, quanto o riso.