domingo, 30 de junho de 2013

novo blog

http://dancandoentrealua.blogspot.com.br/

a partir de agora escrevo em novo endereço

(o 'Enquanto eu tomo meu café' fica por aqui aberto a visitações)

Daggo (29 anos)

com açúcar, com afeto


Feliz Aniversário! Maninho!

quarta-feira, 26 de junho de 2013

ELENA (dançava com a lua)


Põe palavra em mim e eu viro arte ('põe a mão em mim, e viro água') 

por Wigvan – Wigvanquistão (23/6/2013)


Assim foi como se eu estivesse dançando com Elena. O filme é uma carta de amor escrita com imagens. As palavras, discursos que se sobrepõem como instrumentos para formar uma única música, servem à construção delicada de sentimentos por meio daquilo que é concreto – a casa da infância que de repente parecia pequena demais, a rua em sua abertura a qualquer sonho, o apartamento onde ela decidiu se transformar em nada. A biografia da dor, no entanto, não é investigada. Petra sabe, no próprio pulso que cortava na infância, que para a dor não existe uma resposta fácil. Podemos tentar rastrear seus sintomas, mas não é todo mundo que consegue dar nome aos nós que se acumulam na garganta.

Elena percebeu a angústia e o vazio nos meses de solidão em Nova York. Mas era uma angústia sem nome, parecida com aquela que sua mãe tinha quando era adolescente, ao ponto de pressentir o rosto trágico que teria e de dar ao destino um tempo para que ele a convencesse a permanecer viva. Angústia também de Petra, ao lidar com a tristeza constante da irmã – “ela é assim, ela é assim” –, e depois ao perceber que ela não voltaria.

Com a notícia da morte, o absurdo da finitude que desafia a nossa arrogância, somos empurrados em um precipício e nunca, nunca mais deixamos de cair. Durante a queda contínua, o único paliativo são esses fragmentos que ficam retidos em lugares, em músicas, em páginas de livros. No caso de Petra, em diários, fitas de vídeo, em seu próprio rosto que evitava olhar no espelho como uma promessa para que a mãe não morresse. É para contar à irmã sobre esse tempo que ela dedica a última parte de sua carta. Conta sobre as memórias que não podemos abraçar, conta que somos feitos também de ausências. Conta que todas essas partes que arrancaram de nós fazem também parte da identidade que construímos.

Petra Costa tece com palavras todas as lacunas – se “é difícil defender só com palavras a vida”, como disse João Cabral de Melo Neto, as imagens também não são suficientes sozinhas, por mais belas que sejam. É preciso dar a elas um significado, mesmo que provisório, para que nos sintamos brevemente consolados com a ideia de que é possível encontrar nas coisas mais tristes um bom motivo para tentar sobreviver. É quando fala desse heroísmo do dia a dia, do laço de intimidade entre irmãos, da necessidade de transformar o despedaçamento de uma perda em impulso que Petra fala de todos nós. Ela, a mãe e as lembranças da irmã se reconciliam na água. Depois, logo atrás delas, vamos nós, com as nossas cicatrizes e nos consolamos com a nossa própria natureza de rio. Se na infância, Elena mostrava à irmã o mundo, agora é Petra quem mostra ao mundo a obra de arte que Elena sempre fora em segredo.

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Fui assistir 'ELENA' pela segunda vez. 'ELENA' é o filme mais lindo que vi esse ano, e que não sai da minha cabeça. 'ELENA' inspirou meu novo blog. 'ELENA' era doce e linda demais pra esse mundo. 'ELENA' vive, dança e voa. 'ELENA' era pura arte. 'ELENA' foi tão boa. E foi.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

perfil

"Pelo o que me diz respeito. Eu sou feita de dúvidas. O que é torto, o que é direito diante da vida? O que é tido como certo, duvido. E não minto pra mim. Vou montada no meu medo. E mesmo que eu caia sou cobaia de mim mesma. No amor e na raiva, vira e mexe me complico. Reciclo, tô farta, tô forte, tô viva! E só morro no fim. E pra quem anda nos trilhos cuidado com o trem. Eu por mim já descarrilho e não atendo a ninguém. Só me rendo pelo brilho de quem vai fundo e mergulha com tudo pra dentro de si. Lá do alto do telhado pula quem quiser. Só o gato que é gaiato cai de pé..."

sexta-feira, 21 de junho de 2013

na rua (2)

envelhecemos 10 anos nos últimos 10 dias - Marcus Vinícius Faustini

quinta-feira, 20 de junho de 2013

meus 27 anos de vida



O novo blog nasceu. E ainda não está do jeito que eu gostaria. Eu e minhas limitações tecnológicas.

O link: http://dancandoentrealua.blogspot.com.br/

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Carta de despedida

Era 1º de outubro de 2009, o dia que consegui colocar em prática, uma ideia bastante vaga de algo que saia dessa minha cabecinha. Eu não tinha computador quando resolvi ter um blog, e sinceramente não sabia muito o que ia dar, como eu iria seguir. Sabia que era um lugar destinado a escrita. Tinha assistido o filme “Nome Próprio”, sobre a história de uma blogueira e tinha muita vontade de me expressar.

2009 foi um ano muito importante pra mim. Quem sabe um dia consiga contar por que? Mas ainda não me sinto tão segura assim, via blog, para me expor. Lembro de fazer um curso e conhecer uma menina que tinha um blog, lá fui eu perguntar como fazia para ter um. Ela me explicou pacientemente, e deve ter sido uma das minhas primeiras seguidoras.

O tempo foi passando, e o blog teve várias fases pra mim. Não abandonei a escrita no papel, é a minha preferida. Tenho muitos cadernos/diários. Já falei aqui, e realmente a escrita é uma companheira muito fiel, e necessária. As palavras ficam borbulhando na minha cabeça, se repetindo, me lembrando e pedem pra sair, a escrita é esse canal. É claro que as vezes canso, muitas vezes ignoro. E tantas outras tento esquecer. Mas ela volta, ela sempre volta. Eu sou bastante generosa.

Na maioria das vezes não gosto do que escrevo. Sim. Acho que repito muitas palavras. Acho minha escrita engasgada, acho meio gaga. Mas o que eu mais gosto nela e/ou no meu hábito de escrever é essa sinceridade e cumplicidade dela comigo. É a nossa relação, o nosso encontro, e o nosso amor. Nos alimentamos.

Quando tive a ideia de me presentear com um novo blog, já sabia que iria ter que escrever essa carta de despedida. Pensei sobre isso. E agora escrevendo aqui, tô deixando fluir tudo que me vem a cabeça, é um ato bastante raro. Normalmente minha escrita tem pesquisa, elaboração e correção.

Quando o blog nasceu, eu mandava ‘beijo’, no final do texto; achei engraçado isso quando vi agora (busquei pela data de nascimento do blog). Engraçado porque eu imaginava e tentava ser carinhosa com as pessoas que por algum motivo passassem por aqui.

Não sei a partir de quando isso mudou (?). Mas hoje eu escrevo no blog, sem esperar e sem saber quem me lê. Raramente recebo elogios sobre a minha escrita. E eu não era uma das melhores alunas em redação no colégio. Tenho o maior orgulho de me considerar uma aluna medíocre (na média), nunca tive maiores problemas, nem com português, nem com matemática. Fui uma aluna muito tranqüila (acho eu). Sou uma pessoa tranqüila!

Ainda na despedida foram 4 anos de muito respeito, carinho e gratidão, nesse espaço tão meu, e tão teu que aparece aqui. Foram anos dedicados as palavras do meu coração para os dedos. Foram anos de expressão de amores e dores. De mágoas, rancores. De alegrias, de tantas tristezas. E de muitas certezas. Certeza de saber que o blog, era só um blog e nada mais. Um espaço-tempo meu com o mundo reservado. Um lugar de fala (muda). Um lugar de muita delicadeza. Um lugar de muito café tomado.

O novo lugar ainda não foi criado. E tô morrendo de medo de divulgar. Mas sim, colocarei o link aqui, a partir de amanhã.

Tem uma mudança de plano. Me despedirei definitivamente no dia 30 de junho / 2013 (dia do aniversário do meu irmão mais velho). O mês de junho é o nosso mês. Ainda não sei como se dará a logística disso. O novo blog nasce amanhã, meu presente de aniversário de 27 anos. E o ‘Enquanto eu tomo meu café’, finaliza em 30 de junho próximo. Não sei como se darão as publicações. Mas elas existirão (eu acho).

Muitos beijos para todos que me acompanharam nesses 4 anos. E muito obrigada (principalmente pela leitura)!

Até!

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* Hoje é aniversário do Chico Buarque! Parabéns!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

na rua

mais que atenção à vida, era o próprio processo de vida em mim - Clarice Lispector

domingo, 16 de junho de 2013

Brasil nas ruas.

por Luiz Eduardo Soares

O que eu sei e o que não sei sobre as manifestações (pelo passe livre)


Diante de um fenômeno que rompe a rotina e surpreende a expectativa de estabilidade, as reações individuais são as mais variadas. Entretanto, de um modo geral, o primeiro impulso é defensivo e visa a auto-conservação. Qualquer mudança nos ameaça porque traz consigo a fantasia de que nosso mundo pessoal tão precário e incerto está em risco e pode ruir a qualquer momento. Essa fantasia provém da radical insegurança que nos é constitutiva, seres mortais que somos. Não apenas a vida humana é frágil como aquilo que chamamos “realidade” é débil e movediço. Para sustentar-se, nossa “realidade” precisa dos outros, do olhar alheio, de seu reconhecimento, de sua confiança, da reiteração de manifestações de amor, amizade e respeito. A “realidade” depende das redes sociais que tecem afetos, valores, símbolos e ideias, tudo isso embrulhado em narrativas cotidianas verossímeis para o conjunto dos interlocutores.

Por isso, a ruptura do movimento contínuo e previsível da vida — que só é contínuo e previsível em nossa fabulação amedrontada, insegura e defensiva — suscita em nós respostas que negam ou exorcizam a mudança. Nesse sentido, há um complô conservador em cada um de nós — e entre nós — contra a mudança, ocorra ela em nós, nos outros ou na sociedade — como escrevi em um capítulo conhecido do Cabeça de Porco.

O que significam, nesse contexto, negar e exorcizar? Negar não significa recusar-se a admitir a existência de fatos, mas sua novidade, sua diferença. Exorcizar quer dizer livrar-se do embaraço que assusta e ameaça nossas crenças, nossa estabilidade, interior e exterior. Qual a melhor maneira de fazer ao mesmo tempo as duas coisas, negar e exorcizar? Explicando. Sobretudo, explicando com as categorias já conhecidas, disponíveis em nosso repertório de crenças e teorias. Quando eu explico um fenômeno novo, o teor de novidade deixa de perturbar meus esquemas cognitivos e valorativos, e as ideias que me ligam aos outros e àquilo que considero a realidade. Minha sanidade, a solidez de minhas verdades, principalmente a solidez de mim mesmo como sujeito, tudo isso salva-se com a explicação, quando, insisto, e apenas quando ela não coloca em dúvida seus próprios pressupostos ou métodos, seu próprio estoque de ideias prontas. O evento, em sua novidade, infiltra um excedente em nossa sensibilidade, em nossas ideias, em nossas emoções e percepções. Por outro lado, prestando um serviço a nosso aparato de autodefesa, a explicação domestica a diferença, circunscreve seu potencial subversivo e sua força questionadora. Meu argumento é simples: se um evento coloca um problema para meus esquemas mentais e práticos, deixa de fazê-lo quando estes últimos demonstram a capacidade de descrevê-lo (e integrá-lo) sem que haja resíduos, sem que seja necessária a invenção de novas estratégias descritivas e práticas, novas categorias e procedimentos. Na verdade, em vez de conhecimento, estaria em jogo apenas a confirmação de meu repertório prático, moral, ideológico e cognitivo.

Estas reflexões não pretendem ser o elogio à ignorância ou a crítica obscurantista ao conhecimento. Pelo contrário, visam distinguir a tarefa do conhecimento do comodismo classificatório reassegurador, que nos impedem de olhar com os olhos de ver, de escutar para ouvir, projetando menos o que já sabemos ou supomos fazer, e nos abrindo à positividade desafiadora do evento em sua contingência: ação, protagonismos reconfigurando arenas e relações. O ponto a destacar é o seguinte: explicações que funcionam como meras consagrações do que já se sabe — ou se supõe saber — não produzem conhecimento. Se o propósito é conhecer, devemos buscar a compreensão autorreflexiva, a desnaturalização das imagens já constituídas e das descrições correntes. Até porque, nesse campo, todo esforço de entendimento, toda interpretação é também intervenção, é também ação social, uma vez que os intérpretes participam da atribuição de significado aos fatos. Portanto, a atitude amiga do conhecimento deve exercitar os limites do saber e onde há limites, há pelo menos dois espaços, ou seja, para abordar o que ignoro, devo afirmar o que sei, ou julgo saber.

Contemplemos o objeto que nos interroga, tanto quanto o interrogamos: os eventos em que milhares ocupam as ruas de várias cidades brasileiras, protestando contra o aumento de tarifa do transporte coletivo. O que ousaria dizer que sei a seu respeito? O que não sei?, ou melhor, que boas perguntas posso formular para as quais não disponho de respostas?

I. Sobre o universo temático das manifestações:

Sei que o aumento de tarifas afeta a maioria e que atinge o bolso dos trabalhadores em um momento marcado pelo aumento da inflação. Sei que o poder executivo, nas três esferas (municipal, estadual e federal), adotou mecanismos de proteção aos interesses populares, postergando uma medida que dificilmente seria evitável. Esse fato tornou a elevação dessas tarifas um fato raro, especial, destacado, descolando-o da expectativa internalizada relativa à dinâmica geral dos preços de alimentos e serviços. Sei que o valor do transporte é apenas a cabeça de um imenso iceberg, formado por sua qualidade e pelo verdadeiro drama em que se converteu a mobilidade urbana — e não só em São Paulo e no Rio de Janeiro. Sei, portanto, que a cadeia metonímica no imaginário individual e coletivo transporta os significados do preço da tarifa às jornadas desumanas a que os trabalhadores têm sido submetidos, estendendo-se daí a outros aspectos negativos da experiência popular nas cidades: a precariedade do emprego ou do trabalho, as condições desiguais de moradia, saúde, educação, segurança e acesso à Justiça.

Os elos de contiguidade simbólica e política conectam problemas entre si, acentuando sua marca permanente: a desigualdade. E o fazem em um contexto normativo e institucional, o Estado democrático de direito, no qual o princípio cantado em prosa e verso é a equidade. Por isso, os significados negativos se agravam, acentuando a intensidade emocional em que são apreendidos e comunicados: eles se destacam porque remetem à desigualdade, a qual contrasta fortemente com as expectativas geradas pelo pacto constitucional. Afinal, a conversa sobre cidadania é ou não para valer?

Há ainda cinco tópicos conectados na teia metonímica:

(a) Os chamados grandes eventos esportivos, e um religioso, que dominam o calendário oficial e governam as agendas dos governos, sinalizando prosperidade e abundância, uma vez que bilhões são investidos, em descompasso com demandas por equidade e qualidade de vida.

(b) O modelo econômico parece ter feito o desenvolvimento refém da indústria automobilística, na contramão do que seria racional para reduzir o caos urbano, que obstrui a mobilidade, afetando os interesses de todos, em especial os que dispõem de menos recursos e alternativas.

(c) A reputação dos políticos permanece negativa e o ceticismo popular esvazia a legitimidade do instituto da representação, sem que as lideranças dêem mostras de compreender a magnitude do abismo que se abriu — e aprofunda-se, celeremente — entre a institucionalidade política e a opinião da maioria. As denúncias de corrupção se sucedem, endossando a visão negativa que, injustamente, mas compreensivelmente, generaliza-se.

(d) O executivo prestigiado, em contexto de dinamismo econômico, pleno emprego e redução de desigualdades, sob a aura carismática de Lula, freou o desgaste do Estado, já avançado em sua face parlamentar. Quando o modelo começa a dar sinais de que está claudicando, a corrosão contamina a legitimidade (a credibilidade) de todas as áreas do Estado.

(e) Tocqueville nos ensinou que os grupos sociais mais dispostos a agir e reagir não são os mais pobres e impotentes, mas aqueles que têm o que perder. Isso significa que os avanços sociais das últimas duas décadas ampliaram a faixa da população potencialmente disposta a resistir ante o risco de perda. Aqueles que ascenderam não entregarão sem luta suas conquistas.

Outro aspecto que me parece decisivo é o acesso à internet, a participação em redes e a fixação de um modelo globalizado de tomada dos espaços públicos como método de democracia direta ou de ação política não mediada por instituições, partidos e representantes. Evidentemente, o modelo remete à ideia clássica da democracia direta como tipo ideal, sem cumpri-lo inteiramente, uma vez que as mediações nunca deixam de atuar, conectando diferentes procedimentos à energia da massa nas praças. O que conta, neste cenário dramatúrgico, são a memória idealizada e a linguagem comum, como se os eventos se citassem mutuamente, construindo uma constelação virtual de hiperlinks. Nesse contexto, tornam-se possíveis o orgulho, a vaidade, a máscara do herói cívico, a política vivida em grupo como entretenimento cultantipolítico (mas também risco iminente de morte), a experiência gregária fraterna (ante um inimigo tão abstrato e fantasmático quanto óbvio e imediato, com o rosto policial e o sentido da tragédia), experiência que enche o coração de júbilo, exaltando os sentimentos e os elevando a uma escala quase espiritual, a convicção de que se pode prescindir de propostas e metas, ou da negociação de métodos para inscrever o curso da prática na vida da cidade, não só no chão das ruas.

II. Sobre os manifestantes:

São muitos e diversos, e seus propósitos são múltiplos. São grupos semi-organizados que debatem as opções nas redes sociais, são aqueles atraídos para a praça por solidariedade, a qual se fortalece não porque o tema principal, o preço da tarifa, mobilize intensamente, mas porque a brutalidade policial, isto é, a violência do Estado suscita a coesão dos que a repudiam — e, de novo, nesse repúdio estende-se toda a cadeia metonímica referida. Há, é claro, como é natural e inevitável, militantes políticos que percebem a oportunidade de enfraquecer os adversários que estão no poder, considerando-se a visibilidade do país e dos governos estaduais e municipais, na conjuntura em que transcorrem os grandes eventos esportivos e religioso. Há o cidadão comum, revoltado com a tarifa, a (i)mobilidade urbana, a qualidade dos serviços públicos e o rosários de problemas já elencados. Haverá sempre alguns provocadores, animados pelas mais variadas motivações, em um ambiente caracterizado pela falta de lideranças claramente reconhecidas ou consensuais e pela falta de experiência ou de expertise nessa modalidade de ação coletiva, o que favorece a ação de provocadores ou daqueles dispostos a ações violentas, obviamente minoritários e deslocados. Neste ponto, sublinhe-se a falta que faz o PT na oposição, ou a falta que faz qualquer partido popular não cooptado. Por mais que sejamos críticos da forma partido, é indiscutível sua importância na transmissão de experiências acumuladas e na formação da militância. Até a linguagem das massas nas ruas tem sua gramática. A espontaneidade é a energia, mas a organização a potencializa e canaliza.

III. Sobre o Estado, em suas diversas instâncias, em especial, as polícias:

Sei que as polícias militares agiram, sobretudo em São Paulo, com brutalidade criminosa e, desafortunadamente, como é de praxe, seu comportamento foi defendido pelo governador, reproduzindo a postura que tem promovido a impunidade dos policiais que cometem execuções extra-judiciais. Sei também que a polícia militar organizada como exército está condenada a inviabilizar-se como instrumento a serviço da cidadania e da garantia de direitos. Sei que é injusto acusar os policiais, individualmente, ainda que cada indivíduo deva ser responsabilizado por seus atos. Seus atos exprimem a orientação que recebem e a educação corporativa, o que amplia o espectro da responsabilidade por ações criminosas, incluindo as instituições policiais e os governos.

IV. O que não sei:

Este é o tópico decisivo. Não sei o que há a mais nas manifestações (mas sei que há), além do que pude ver, apoiado no que o meu esquema cognitivo me permite ver. Ou seja, não sei o que esse movimento, em sua heterogeneidade, está inventando e nos está dizendo, e está dizendo a si mesmo, ao constituir-se. Não sei que narrativa nova produzirá, ou melhor, já produziu. E aqui estão as perguntas que me parecem chave: por que, no marasmo gerado pelo ceticismo político, tantos vão às ruas, apaixonando-se pela ação coletiva, correndo risco de ferir-se, ou mesmo morrer, ou de ser preso? Qual o novo sentido de um grupo que se forja nas redes e nas ruas, tecendo sua unidade na diferença, caminhando lado a lado, experimentando uma solidariedade de outro tipo, uma fraternidade sem bandeiras, a despeito da (e por causa da) multiplicidade de desejos provavelmente muito diferentes e objetivos difusos?

A força da multidão foi reencontrada pelos jovens e pelos cidadãos que passam perto e se deixam atrair pelo magnetismo de um pertencimento precário, provisório, sem rosto, mas com alma. Que alma tem o movimento? Sim, intuo, suponho, sinto que ele tem alma, isto é, uma unidade toda sua — não verbalizada — e uma personalidade. Intuo que esta alma não seja aquela que se derivaria — como o negativo ou o avesso — de uma comparação com o que sabemos: não sendo, o movimento, organizado ao modo antigo, deduzir-se-ia que seria inorgânico; não tendo uma plataforma clara e uma visão compartilhada que incorporasse as mediações, deduzir-se-ia que seria irracional, despolitizado, quando não selvagem. As visões negativas correspondem ao preenchimento das lacunas de nossa ignorância com as figuras do que já sabemos. Creio que nos conviria optar pela humildade, em vez de precipitarmo-nos em julgamentos e análises. Não me parece razoável dizer o que o movimento não é tomando as gerações passadas por molde e vendo como irrealização e incompletude aquilo que é simplesmente diferente e ainda não conseguimos compreender. Há no movimento magnetismo, há conexão metonímica com questões centrais para o Brasil e o mundo, há um diálogo tácito, consciente e inconsciente, com a humanidade em escala planetária, com nossa memória social e com a tradição de nossa cultura política. Há coragem de perder o medo e de renunciar à apatia. Há, nesses eventos, no movimento pelo passe livre, ou dê-se a ele o nome que se queira, a disposição de aprender, fazendo. Há coragem para criar e, portanto, para errar. De nossa parte, os anciãos e os governantes, autorreferidos e inseguros, ameaçados em nossos esquemas cognitivos e práticos, caberia escutar, acompanhar, respeitar, repelir a violência policial (e qualquer outra), admitir nossa ignorância, e considerar a hipótese de que algo novo esteja surgindo e essa novidade talvez seja virtuosa e republicana, quem sabe a reinvenção da política democrática. Talvez a melhor forma de escutar seja tentar unir-se ao coro, na rua. Para (re)aprender a falar.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Krzysztof Kieślowski

(1941 - 1996)


'La double vie de Véronique'

lugar

(espaço ocupado, sítio, espaço (2), sítio ou ponto referido a um fato, ambiente, povoação, localidade, região ou país, posição, situação, emprego, cargo, assento marcado e determinado, posição determinada num conjunto, numa série, etc., oportunidade, vez)

Dar lugar a.
Ter como resultado; causar, originar.

Ter lugar.
Realizar-se, efetuar-se; ocorrer.


Foto: Bruno F. Duarte

segunda-feira, 10 de junho de 2013

samba de uma nota só



vou contar com uma nota como eu gosto de você - Tom Jobim

domingo, 9 de junho de 2013

Jean-Luc Godard



Ângela é uma dançarina que quer ter um filho, e decide convencer o namorado Émile, que não dá bola para seus apelos. Diante da negativa, ela decide recorrer a outro homem. Alfred é seu vizinho, grande amigo e apaixonado por ela.

- uma mulher é uma mulher -

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Maninha, 25 anos.



(teus 25, e o nosso amor)

10 aniversários. Não há dia em que não lembre de ti. Não há dia em que não pense em ti. Não me lembro direito do dia em que você chegou (talvez o Daggo lembre). Mas não consigo imaginar nenhum dia da minha vida sem você. Sei a hora que você nasceu, e fiz questão de memorizá-la. Certa vez querendo saber o horário do meu nascimento, fui olhar minha certidão, e estavam juntas na mesma pasta; busquei também pela tua hora e guardei comigo (numa busca de te sentir mais perto). Lembro agora da nossa foto em que estás bebê com os óculos amarelos, sentadas na almofada da Vó Eva. Lembro das tuas caras ‘emburradas’ e dos teus sorrisos ‘amarelos’. Lembro do teu gosto por futebol. E da tua negação em ‘torrar no sol’. Lembro do nosso acordar pela manhã (5h25, 5h30), e de botar o ferro pra esquentar (passávamos a blusa do colégio). Lembro das nossas leituras, revezadas, e das nossas vozes. Voz que até hoje me traz tanta paz (sempre que te escuto). Lembro das feiras (inesquecíveis). Lembro da tua rapidez como garçonete (e da minha lerdeza no balcão), e como tudo vira diversão. Lembro das minhas insistentes reuniões familiares (que não sei se serviram pr’alguma coisa - ? -). Lembro dos nossos shows de cantoras, dos nossos risos, e do nosso olhar. Lembro sempre, de te perguntar. Lembro sempre de você me explicando. Lembro muito da gente conversando. Lembro do nosso ‘boa noite’. Adorava te buscar na escola (me sentia a irmã mais responsável do mundo). Adoro teu jeito único de ser. E amo, mais que tudo ser tua irmã. Porque você é uma das pessoas mais incríveis que já conheci. E que a saudade é grande e o nosso amor também. Feliz Aniversário. E pra sempre o nosso abraço. Te amo.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Junho (giugno)



Calendário - 2013 (presente da querida amiga Jeane, um calendário italiano)

amor



o amor é trilha de lençóis

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Freud (2)

o trabalho, e o amor (são as coisas mais importantes da vida)

sábado, 18 de maio de 2013

ele

uso a palavra para compor meus silêncios - Manoel de Barros

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Freud

a profissão, e o sexo (são as coisas mais importantes da vida)

terça-feira, 14 de maio de 2013

novo blog

Faz muito tempo que não escrevo aqui algo mais autoral. Tenho escrito pouco em cadernos. E tenho pensado muito. Mas há poucos dias estive pensando sobre o que me presentear (de aniversário). Ando num momento estranho. Mas faço questão de tornar meu aniversário em um momento especial. Um dia explico isso detalhadamente, mas é uma referência materna.

Então, em breve completarei 27 anos de vida. E ontem tive essa ideia, irei me dar um novo blog de presente de aniversário. Não imaginei que teria tanta ansiedade com isso. Mas o 'novo blog' não sai da minha cabeça.

Pois é! Sou apaixonada por esse blog, as vezes enjoo, mas passa rápido. Já pensei e até fiz isso na prática algumas alterações, já desfiz muitas, por achar que esse 'layout' é o melhor.

Por fim, gostaria de comunicar que em 19 de junho de 2013 me despeço do 'Enquanto eu tomo meu café...', e de uma parte de mim também. Mas até lá... tem muita água pra rolar.

E preparem-se que em 20 de junho (dia em que nasci) teremos um novo lugar de expressão dessa Talitta que continua escrevendo. Porque a escrita é minha companheira fiel, e com ela sou mais feliz. Se eu tiver alguma pendência nessa vida, minha pendência será com a escrita ela nunca, nunca me abandonou, e ela sempre segura a minha mão com tanto carinho que eu tenho imensa gratidão.

guria



(o) vento seca, (o) amor enxuga

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Elena



Lindo filme.

Elena dançava com a Lua. Elena era tão crua. E se foi. O fim. Acaba. Termina. E deixa.

domingo, 12 de maio de 2013

Mãe Terra



(desenho de Isabel Gomide - artista da Cia. Carroça de Mamulengos)

Minha homenagem as mulheres e Mães (de todos os dias).

terça-feira, 7 de maio de 2013

educação

e a educação continua me emocionando, nem eu sabia que esse encontro seria tão forte

domingo, 21 de abril de 2013

corpo



(meu corpo) me sabe mais que me sei

(Carlos Drummond de Andrade)

sábado, 6 de abril de 2013

sábado, 23 de março de 2013

mar

eu sou água que bate leve, forte
com carinho no olhar

mas também sinto dor

deixo o tempo passar
deixo a água curar

terça-feira, 19 de março de 2013

sobrinha

passou por aqui

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Florianópolis

Saudades de Florianópolis 'Manifesto do Verão 2013'

por Felipe Lenhart


Florianópolis, saio de férias esta semana, e espero te reencontrar. Já faz mais de uma década que tu perdeste e não achaste mais o rumo do teu rancho, deixaste apagar a chama da tua pomboca, largaste de mão as rendas e a tarrafa num canto e abandonaste a tua baleeira ao sabor das ondas. Te emperiquitaste toda, ganhaste um vestido aqui, um day spa ali, levaram-te para um salão de beleza chique, até plásticas andaste fazendo, tu que és linda de nascença, por natureza, beleza sem par. Só andas de carro importado, estás irreconhecível. Mas eu tenho esperança de tornar a te ver nua, sem lenço e sem maquiagem durante esse período em que irei passear pelos teus cenários.

Ora, de repente, viraste a Ilha da Magia, título que faz jus à tua história, ao teu folclore e à personalidade da tua gente, embora tenha te deixado faceira além da conta. Depois, alguém te nomeou Capital Turística do Mercosul, sem que jamais tenhas te preparado para isso, demonstrado competência para exercer o cargo. Daí para frente, foste de elogio em elogio, de rapapé em rapapé, de declaração fulgurante em declaração fulgurante. E hoje estás aí, esnobe e orgulhosa, metida e provinciana como nunca.

Pudera. O assédio é implacável, e tu te deixaste levar. Jornais e revistas passaram a te paparicar como a uma estrela, e gente de todo o Brasil começou a falar de ti publicamente. O dia contigo. Uma tarde contigo. Uma noite dos deuses contigo. Um feriado de cinema contigo. Uma temporada inesquecível contigo. Viraste a capital mais invejada do Brasil, como se tu brilhasses dia e noite, não tivesses indisposições, achaques, dores de cabeça e de ouvido. O mundo olhava para ti e via a mulher dos sonhos. Floripa: #partiu.

Então, começaste a inchar. A comer de glutona, sem fome, e a beber como nunca, sem sede. A viver de salto alto, caminhando entre prédios cada vez maiores e numerosos, quando querias mesmo era andar descalça sobre a areia do mar. A sair dia e noite, num ritmo frenético, quase mecânico, que ofuscou o teu olhar e embruteceu a tua sensibilidade. Até as tuas praias, que o teu povo aprendeu na escola serem 42, viraram uma centena. E te perdeste.

Gente rica veio morar na tua região e a te transformar na marra em gente rica como eles. Bares, restaurantes e hotéis foram sendo abertos e fechados, um seguido do outro, até que a máquina engrenou. Te imaginaste Punta, Saint-Tropez, Ibiza, passaste a chamar berbigão de vôngole, a derrubar bar de praia e a erguer beach club, a preferir piscina à lagoa, os teus condomínios começaram a se comunicar em francês e inglês. Pegaste fama de mulher Classe A, que só se interessa por jogadores de futebol, traficantes milionários, pilotos de fórmula 1, políticos Don Juan, atores e DJs. Todos vestidos de branco e dourado, desfrutando uma interminável sunset party isenta de fiscalização e imposto de renda.

Não tens terminais de ônibus decentes, um sistema de transporte coletivo que funcione, mas reclamas marinas para aportares as tuas lanchas e os teus iates. Tu, que eras a cidade das bicicletas, dos campinhos e dos ônibus pontuais, em que motorista conhecia passageiro, que conhecia cobrador, viraste um lugar do carro, para o carro, pelo carro, de avenidas mal desenhadas, viadutos improvisados, semáforos que não conversam, ciclovias que levam do nada a lugar nenhum, operações tapete preto. As tuas praias estão cheias de lixo, os motoristas cada vez mais desrespeitosos, a tua gente cada vez menos educada.

Aos poucos, a convivência entre os teus foi arruinada. Os teus festejos de bairro minguaram, porque as pessoas começaram a se matar aos socos e às facadas e aos tiros. As festas municipais foram enclausuradas dentro de "centros de eventos", como em "cidades grandes", com uma dinâmica excludente, elitista, e já ninguém lhes dá a mínima - e aqueles que apostavam tudo nelas, a tua gente mais precisada, ficou a ver canoas, entregue à intempérie econômica, sem pulseirinha, área VIP, cortesia, camarote, listas bônus.

Mas então veio esse memorável carnaval de 2013, em que, mesmo sob atentados, incêndios e tensão, o teu povo voltou à praça como antigamente, todo mundo junto e misturado, batendo tambores e recordes de presença e de alegria. Eu pego o embalo e saio de férias, confiante de que irei te reencontrar.

Vou, por exemplo, àquele canto esquecido das dunas dos Ingleses para ver se estás por ali, estendendo redes de pesca com os nativos ou descendo as ondas de areia em cima de caixas plásticas besuntadas de vela. Subirei o costão esquerdo do Santinho para que, juntos, relembremos a época em que os costões eram virgens e livres de especulação imobiliária. Vou saltar para dentro de um barco e ir até a Ilha do Campeche batendo papo com o pescador sobre a escassez atual que grassa nesse marzão que te circunda. Vou tomar banho em praias que, ao se verem livres de turistas e visitantes, nos presenteiam com a água mais verde-cristalino de que se tem notícia. Vou marchar até a Lagoinha do Leste e lá dormir uma noite, para ver se te escuto cantar numa roda de violão à luz da fogueira...

Vou, enfim, passear pelas tuas entranhas, para ver se te reencontro, pois já estou com saudades.

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* Um pouco de Florianópolis pra entender o que é ser um Manezinho.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

meu mar

eu sou um mar

cuidado: perigo frágil

Isadora


Isadora Duncan
(1877 - 1927)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

equilíbrio

Equilíbrio é a habilidade de olhar para a vida a partir de uma perspectiva clara - fazer a coisa certa no momento certo.

Uma pessoa equilibrada será capaz de apreciar a beleza e o significado de cada situação seja ela adversa ou favorável.

Equilíbrio é a habilidade de aprender com a situação e de prosseguir com sentimentos positivos. É estar sempre alerta, ser totalmente focado, e ter uma visão ampla.

Equilíbrio vem do entendimento, humildade e tolerância. O mais elevado estado de equilíbrio é voar livre de tudo e, ainda assim, manter-se firmemente enraizado na realidade do mundo.

(Brahma Kumaris)

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

por hoje

tem mais presença em mim, o que me falta - Manoel de Barros

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Maninho Rafael! Feliz Aniversário!



- são trilhares de estrelas e eu nem sabia -

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

escrita

por Flávia Muniz Cirilo

Para escrever poemas é preciso despir-se dos olhos alheios e das farpas.

Para não escrevê-los basta enganar o silêncio com invenções às avessas.

Para manter-se mudo não há segredos: engane a si mesmo.

(E) quando não aguentar mais o engano solte as palavras famintas e as deixe devorar o branco ávido dos papéis.