quarta-feira, 26 de junho de 2013

ELENA (dançava com a lua)


Põe palavra em mim e eu viro arte ('põe a mão em mim, e viro água') 

por Wigvan – Wigvanquistão (23/6/2013)


Assim foi como se eu estivesse dançando com Elena. O filme é uma carta de amor escrita com imagens. As palavras, discursos que se sobrepõem como instrumentos para formar uma única música, servem à construção delicada de sentimentos por meio daquilo que é concreto – a casa da infância que de repente parecia pequena demais, a rua em sua abertura a qualquer sonho, o apartamento onde ela decidiu se transformar em nada. A biografia da dor, no entanto, não é investigada. Petra sabe, no próprio pulso que cortava na infância, que para a dor não existe uma resposta fácil. Podemos tentar rastrear seus sintomas, mas não é todo mundo que consegue dar nome aos nós que se acumulam na garganta.

Elena percebeu a angústia e o vazio nos meses de solidão em Nova York. Mas era uma angústia sem nome, parecida com aquela que sua mãe tinha quando era adolescente, ao ponto de pressentir o rosto trágico que teria e de dar ao destino um tempo para que ele a convencesse a permanecer viva. Angústia também de Petra, ao lidar com a tristeza constante da irmã – “ela é assim, ela é assim” –, e depois ao perceber que ela não voltaria.

Com a notícia da morte, o absurdo da finitude que desafia a nossa arrogância, somos empurrados em um precipício e nunca, nunca mais deixamos de cair. Durante a queda contínua, o único paliativo são esses fragmentos que ficam retidos em lugares, em músicas, em páginas de livros. No caso de Petra, em diários, fitas de vídeo, em seu próprio rosto que evitava olhar no espelho como uma promessa para que a mãe não morresse. É para contar à irmã sobre esse tempo que ela dedica a última parte de sua carta. Conta sobre as memórias que não podemos abraçar, conta que somos feitos também de ausências. Conta que todas essas partes que arrancaram de nós fazem também parte da identidade que construímos.

Petra Costa tece com palavras todas as lacunas – se “é difícil defender só com palavras a vida”, como disse João Cabral de Melo Neto, as imagens também não são suficientes sozinhas, por mais belas que sejam. É preciso dar a elas um significado, mesmo que provisório, para que nos sintamos brevemente consolados com a ideia de que é possível encontrar nas coisas mais tristes um bom motivo para tentar sobreviver. É quando fala desse heroísmo do dia a dia, do laço de intimidade entre irmãos, da necessidade de transformar o despedaçamento de uma perda em impulso que Petra fala de todos nós. Ela, a mãe e as lembranças da irmã se reconciliam na água. Depois, logo atrás delas, vamos nós, com as nossas cicatrizes e nos consolamos com a nossa própria natureza de rio. Se na infância, Elena mostrava à irmã o mundo, agora é Petra quem mostra ao mundo a obra de arte que Elena sempre fora em segredo.

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Fui assistir 'ELENA' pela segunda vez. 'ELENA' é o filme mais lindo que vi esse ano, e que não sai da minha cabeça. 'ELENA' inspirou meu novo blog. 'ELENA' era doce e linda demais pra esse mundo. 'ELENA' vive, dança e voa. 'ELENA' era pura arte. 'ELENA' foi tão boa. E foi.

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