sábado, 27 de outubro de 2012

a dança e a voz

Então foi mais ou menos assim... a vida anda me dando voltas. Voltas boas. Me inscrevi pra participar de uma “performance”, no festival de dança... algo como o público também atua.

E lá estava eu sozinha, sentada numa cadeira tipo de diretor dentro de um teatro pequeno, não por acaso, o nome do Teatro chama Café Pequeno. Sentei, tudo escuro, no breu e de repente começo ouvir memórias sobre impressões artísticas, através das vozes de pessoas, acompanhadas por alguma luz fina, pequena que alternava entre amarelo, laranja, verde e trêmulas.

Escutava as histórias e lembrava das minhas, senti calafrios, senti meu corpo tremer, senti choro, senti riso, senti vida. Me arrepiei na maioria das vezes. Me reconheci naquelas emoções. Me identifiquei com a coragem de contar e expressar... quando a arte nos move.

Lembrei. Lembrei. Lembrei.

Agora era a minha vez de contar e era minha vez de me ouvir. Estava tocada demais, recheada de tanta emoção.

E lá fui eu e a minha voz. E lá fui eu me expressar. Vi o microfone. Vi a salinha do camarim e suas luzinhas. Artista já nasce estrela. E quis falar daquilo que eu estava sentindo. Queria falar que voz também é corpo. Queria dizer do quanto o canto me atravessa. Queria me expressar e dar vazão a toda a força que a arte propaga em mim. Queria chorar, queria sorrir.

A moça me interrompe e pede... “conte uma memória. Vou ler aqui sobre a instalação, pra você entender melhor”. Devo ter cara de dúvida? Pensei.

Recomecei... e antes pensei... memórias não são lineares... que mania de botar a vida em linha reta. Me coloquei.

Então eu tinha uns 6 anos e fui assistir um espetáculo de final de ano da escola que a minha prima, mais nova que eu dançava. Foi algo bem simples, nada de performático. Foi uma apresentação de grupo de dança. E depois daquilo eu falei pra minha Mãe que queria fazer balé. Minha Mãe me questionou... "tem certeza, filha?! será que você não quer fazer outra atividade?!”. Não. Eu não queria fazer outra atividade. A dança já tinha me encontrado.

E hoje aos 26 anos tenho mais certeza desse encontro. Dança, obrigada por me encontrar todos os dias. Obrigada por ser parte da minha vida, da minha memória, da minha voz, do meu corpo. Obrigada por ser minha companheira mais generosa.

Obrigada por fazer eu ser mais Talitta (todos os dias).

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E essa escrita que me organiza.

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