Enquanto eu tomo meu café...: o que

dói

dói

sem a gente querer

sem a gente escolher

(então, a gente aperta pra tentar esconder)

O RITUAL DO CAFÉ

Estampa-se o sol em delicados raios

Sobre o mármore branco e liso da cozinha

Suavemente me debruço e uma porta abro

Recolho a chávena fina e o florido prato

Ergo o meu braço e num voo livre

No gesto de um armário desvendar

Recolho o nobre pó de inebriante aroma

Alongo a mão que a gaveta encontra

E dela escolho, enfim, a colher mais bela

Brilhante, pequena, com terno recorte

Tudo coloco em ordem e harmonia

O prato tranquilo e a expectante chávena

Nesta, o torrado grão moído, de castanho intenso

Depois, a água borbulhante e quente

A mistura inunda, dissolvendo-a

Em espirais de espuma que a colher adorna

Café! Café! Precioso encanto!
Em dégagé devant te cumprimento

Os meus braços lanço em acolhimento grato
Da janela aberta me acerco então

Tão bela é a vista que o outono pinta no jardim!

Castanho da terra e o verde das plantas unem-se

Aspiro, feliz, da manhã tranquila, o seu odor

O quente café e à relva orvalhada

Olho o céu e sorvo um gole, outro e outro.
E assim me quedo, por instantes longos

Entre o prazer do café e a doçura da manhã

Mais um dia de vida se inicia!

( Ilona Bastos )

Enquanto eu tomo meu café...