sábado, 5 de dezembro de 2009

Crise


Não faz muito tempo aprendi que crise é bom ou faz bem. Isto é, que o significado de crise = quebra pode e deve ser positivo quando associado a mudanças. Estou em crise de uns tempos para cá.
Quando comecei a perceber que não sou mais criança (não faz muito tempo), e que não posso mais agir como criança. Quando consegui compreender o sentido de ser adolescente e felizmente ou infelizmente já passei dessa fase.
É, agora, diferente de ontem sou adulta. Isso não quer dizer que sou madura ou que estou mais madura. Porque o amadurecimento tem sido doloroso para mim. E a maturidade, então, não consigo nem falar e escrever muito sobre isso, porque ainda é como se fosse um mistério.
A vida adulta para mim, ainda está cheia de mitos e convenções que não acredito e que não concordo. Escrevendo isso, parece que estou tendo crise de adolescência na fase adulta. Porque entendo que a rebeldia e talvez as contradições fazem parte e estão contidas na adolescência.
Acho que ser adulto (é como se fosse o contrário de tudo que ainda não sou) é ser mais sério do que o habitual ou ter horas certas para rir e chorar. Isto é, não poderia ter as crises mais loucas de riso e também de choro que eu tenho de vez em quando.
O ser adulto parece um ser cheio de certezas e até mentiras, porque mudar de opinião é perder a credibilidade.
O adulto só enxerga diferenças nos gêneros, e acha que as relações e encontros acontecem por interesses sexuais.
O adulto não pode ser ingênuo, não pode não entender piadas, não deve ser sincero. A última especificamente, porque está relacionado a infantilidade.
O adulto tem que ter noção do mundo. Isto é, talvez não possa se intitular ignorante em algumas coisas ou para determinados assuntos. No mínimo ela já deve ter ouvido falar, se já estiver completado o ensino superior, a cobrança é ainda maior.
O adulto não deve falar o que pensa, ele precisa pensar antes de falar e deve medir as palavras, ter cuidado. Porque tudo pode ser usado contra ele. No mundo dos adultos é assim. Inclusive é cheio de deturpações, porque o literalmente e/ou ao pé da letra parecem não pertencer ao mundo dos adultos.
Para sermos adultos aprendemos a fingir. No fundo as máscaras são só metáforas para entendermos o que é ser adulto.
Então, posso dizer que estou aprendendo a ser adulta. E que está sendo difícil. Mas, já me sinto mais adulta, só não sei se isso é bom ou ruim?!? Ih! Olha aí o conflito do bem e do mal! Dando sinais e provas da minha infantilidade (rs).

PS.: Pintura de Miró.
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Ser feliz não é pecado

Por Martha Medeiros

A felicidade é desprezada por muita gente. A pessoa feliz sofre o preconceito de parecer uma pessoa vazia, sem conteúdo. No entanto, algo ela tem, senão não incomodaria tanto. Será que é porque ela nos confronta com nossa própria miséria existencial? É irritante ver alguém naturalmente linda, rica, simpática, inteligente, culta, talentosa, apaixonada e, ainda por cima, magra! Essa ninfa nunca ouviu falar em insônia, depressão, dívidas, mousse de chocolate?

Os felizes ainda estão associados ao padrão "comercial de margarina", portanto, costumam ser idealizados - e desacreditados. É como se fossem marcianos, só que não são verdes. Por isso, damos mais crédito aos angustiados, aos irônicos, aos pessimistas. Por não aparentarem possuir vínculo com essa tal felicidade, dão a entender que têm uma vida muito mais profunda. Você é feliz? Não espalhe, já que tanta gente se sente agredida com isso. Mas também não se culpe, porque felicidade é coisa bem diferente do que ser linda, rica, simpática e aquela coisa toda. Felicidade, se eu não estiver muito enganada, é ter noção da precariedade da vida, é estar consciente de que nada é fácil, é tirar algum proveito do sofrimento, é não se exigir de forma desumana e, apesar (ou por causa) disso tudo, conseguir ter um prazer quase indecente em estar vivo.

O psicanalista Contardo Calligaris certa vez disse uma frase que sublinhei: "Ser feliz não é tão importante, mais vale ter uma vida interessante". Creio que ele estava rejeitando justamente esta busca pelo kit felicidade, composto de meia dúzia de realizações convencionais. Ter uma vida interessante é outra coisa: é cair e levantar, se movimentar, relacionar-se com as pessoas, não ter medo de mudanças, encarar o erro como um caminho para encontrar novas soluções, ter a cara-de-pau de se testar em outros papéis - e humildade para abandoná-los se não der certo. Uma vida interessante é outro tipo de vida feliz: a que passou ao largo dos contos-de-fada. É o que faz você ter uma biografia com mais de 10 páginas.

Se você acredita que ser feliz compromete seu currículo de intelectual engajado, troque por outro termo, mas não cuspa neste prato. Embriague-se de satisfação íntima e justifique-se dizendo que é um louco, apenas isso. Como você sabe, os loucos sempre encontram as portas do céu abertas.

Rita Lee, que já passou por poucas e boas, mas nunca se queixou de não ter uma vida interessante, anos atrás musicou com Arnaldo Batista estes versos: "Se eles são bonitos, sou Alain Delon/ se eles são famosos/ sou Napoleão/se eles têm três carros/ eu posso voar". Também faço da Balada do Louco meu hino, que assim encerra: "Mais louco é quem me diz que não é feliz".

Eu sou feliz.

PS.: Martha Medeiros me conhece, nem que seja em sonho!

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