terça-feira, 6 de outubro de 2009

Viver é não ter a vergonha de ser feliz!


Quando falei para minha irmã sobre meu blog ela me perguntou sobre o que era e sobre o que eu ia escrever aqui. Se não ia ficar botando poemas de outras pessoas (?). Respondi que ia escrever sobre minha vida, como uma espécie de "diário virtual", e aí ela brincou: iiihhh... "imprensa marrom" (rsrs - rimos juntas). Eu e minha irmã, somos assim, rimos à toa, de nós mesmas ou de qualquer coisa... já faz algum tempo que somos assim... amigas... grudadas. Mas, nem sempre foi assim, quando éramos crianças brigávamos muito, mas sempre voltávamos a nos entender, até que não brigamos mais... Minha irmã é muito importante para mim, eu diria imprescindível. Mesmo assim, nesse blog irei compartilhar textos que leio por aí.. e que gostaria que outras pessoas conhecessem. Então, aí está um texto de Martha Medeiros que escreve para um jornal aqui do Rio.

Ninguém se envergonha mais

por Martha Medeiros

"As pessoas que frequentam o noticiário não são representantes de toda a sociedade, apenas de uma parcela dela. Mas pela projeção que recebem, ficamos tentados a traçar o perfil do novo homem e da nova mulher baseados em seu comportamento, e é por essas e outras que estamos com a impressão de que a vergonha sumiu do mapa.

Lembro de meus pais dizendo que não era vergonha nenhuma chorar, ter medo ou ter dúvidas. Me instruiam para jamais sentir vergonha de perguntar, pois quem pergunta, diziam eles, pode passar por ignorante uma vez, mas quem não pergunta permanece ignorante a vida inteira. Era sobre essas vergonhas que falávamos em casa, porque roubar, mentir ou se vulgarizar estava fora de pauta. Nossas vergonhas eram inocentes se comparadas com a falta de constrangimento que viria a imperar mais tarde.

A julgar pelo que se vê por aí, alguém ainda sente vergonha? Fazendo um apanhado do que se noticiou nas últimas semanas, dá pra acreditar que as pessoas ainda sintam alguma espécie de pudor? Um presidente do Senado é soterrado por denúncias, seus pares aprovam o arquivamento das investigações e ninguém fica nem vermelho. Um ex-presidente que jamais deu contribuição intelectual ao país e que nunca publicou um livro é empossado numa Academia de Letras e não vê nenhum vexame nisso. Um piloto de Fórmula 1 provoca um acidente de propósito, colocando pessoas em risco e corrompendo o espírito esportivo, e tudo não passa de uma consequência da máfia que rege o esporte hoje: o que antes era saudável, agora só existe para ser rentável.

Dopings, blefes, corrupção, empulhação. Tudo acontece pela falta de hábito de negar-se ao erro. “Não, eu não vou continuar num cargo que desonrei”. “Não, eu não vou concorrer a uma vaga numa entidade que está fora do meu círculo de atuação”. “Não, eu não aceito protagonizar uma farsa, mesmo que meu contrato não seja renovado”.

Danem-se os contratos. Danem-se os holofotes. Danem-se as ambições. Há momentos em que o caráter está em jogo e não se pode negociar.

Lembrei agora, numa escala bem menor de importância, dessa nova onda de se autografar revistas eróticas. Não vejo problema em uma mulher ou homem posarem nus, mas me pergunto se um livreiro não fica encabulado de aceitar que uma ex-BBB, por exemplo, utilize um recinto ocupado por obras de Guimarães Rosa, Machado de Assis e Clarice Lispector para distribuir dedicatórias na própria bunda. Ninguém vê nada de constrangedor nisso? Pelo visto, nada. É apenas a outra face da honradez: assumir o ridículo de seus atos e envaidecer-se deles. Também já não provoca vergonha aparecer na capa de uma revista e dizer que encontrou o amor eterno, e dali a dias deixar-se fotografar com outro amor pra sempre, e na edição seguinte ser flagrada aos beijos com, agora sim, um amor definitivo, e assim ir expondo frivolamente seus enganos quanto à intensidade de suas paixões. É a outra face da honestidade: o recato é que passou a ser condenável.

Como eu dizia, é só uma parcela do todo. Ainda há quem sinta vergonha de se exibir de forma descontrolada, vergonha de aceitar qualquer coisa por dinheiro, essas vergonhas benéficas, que ajudam a manter uma certa moralidade. E no caso de se fraquejar, que ninguém é perfeito, confio que ainda há quem faça um mea-culpa, apague a luz, fale baixo e não coloque o nariz pra fora de casa tão cedo, pois essa é a única face da humildade, creio que não há outra."

Revista do jornal O Globo - 20.09.2009

Um grande beijo!

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